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domingo, 27 de novembro de 2011


A Nostalgia de Um Cristianismo Profético e Didático

Por Alcides Silva



INTRODUÇÃO
Estamos em crise! O cristianismo brasileiro tornou-se uma árvore muito frondosa, cresceu muito para todos os lados: Para os flancos, para cima. Agigantou-se de uma forma anômala. Sim, porque não cresceu em profundidade. Não consegue mais extrair subsídios suficientes para promover saúde a seus ramos. São raízes superficiais, não conseguem encontrar a seiva cruz.
O evangelho das denominações não contempla mais elementos como cruz, espinhos, escárnios pelo nome de Cristo. Não se ouve mais vozes que clamam do deserto bradando uma mensagem de austeridade, arrependimento e isenção do poder político ou religioso. Nosso “evangelho” pós-moderno é marcado pelos mimos divinos, pela instauração do céu na terra; pela presença de um deus-produto para uma fé de mercado. Agora o sujeito procura uma igreja com as mesmas perspectivas que um consumidor qualquer vai ao supermercado a procura de um produto que lhe satisfaça as necessidades. O homem “evangélico” tem o domínio absoluto sobre o sagrado de tal modo que lhe permite ir a lugares jamais visitados por qualquer outra entidade, opera o milagre de determinar o agir do deus servo, servo de uma teologia maldita, corrupta e corruptora.
O fervor da fé cristã se esvaziou de conteúdo ético, de prática, de intimidade com Deus, e amizade com os homens ao mesmo tempo em que se enriqueceu com um secularismo costumeiro para os que há muito andam sem a orientação de Cristo.
Que nos parece isto? Qual a diferença entre os nossos pares e o estilo de vida dos separatistas fariseus ou dos liberais saduceus ou dos místicos essênios contemporâneos de Cristo? Tenho para mim que a única divisória existente é a histórica.
Todo esse relatório me faz lembrar um que Neemias recebeu de Hanani, vindo dos destroços de Jerusalém: "[…] as coisas por lá não andam muito boas; os muros de Je­rusalém ainda estão derrubados, e as por­tas estão queimadas." Me faz ver as páginas do Novo Testamento com muita nostalgia, como por exemplo, Atos 13.1-4:


1 - ENTRE OS PROFETAS e mestres da igreja de Antioquia estavam Barnabé e Simeão (também chamado "O Negro"), Lúcio (de Cirene), Manaém, (irmão de criação do rei Herodes), e Paulo.
2 - Um dia, enquanto estes homens estavam em adoração e jejum, o Espírito Santo disse: "Separem Barnabé e Paulo para um trabalho especial que Eu tenho para eles".
3 - Então, depois de jejuar e orar mais, os homens puseram as mãos sobre eles - e mandaram os dois.
4 - Dirigidos pelo Espírito Santo, eles foram para a Selêucia e daí navegaram para Chipre.


Deste fragmento poderia extrair algumas considerações do ontem para o hoje, mas que me deter apenas em duas figuras iminentes no cenário eclesiástico neotestamentário. Em primeiro lugar, o profeta, indivíduo muito requerido no Antigo Testamento; em segundo lugar, o mestre, imagem ilustre nos tempos de Jesus.

1)    1) O PROFETA
Termo usado no velho testamento remonta o mundo folclórico que por muito tempo povoou minhas idéias de infância, o ventríloquo. Sim, senhores! Aquele boneco assentado na perna de seu manipulador, que nos faz pensar que tal objeto tem o dom da fala, é esse o termo empregado para a mais famigerada atribuição divina a um sujeito na antiga aliança.
Há alguns apontamentos sobre o profeta:
a)    a) Nunca fala por si mesmo, mas sempre ecoa de si uma declaração que tira o eu de sena e põe Jeová em evidência: “assim diz o Senhor (Adonai).”
b)    b) Impopular. Nunca houve um profeta que gozasse de popularidade, quer fosse entre o povo, quer fosse com o clero ou com os nobres. Sempre foi persona nom grata entre os de seu tempo. Não também em si o desejo de tal coisa, que, aliás, era um péssimo sinal;
c)    c) Subversão. Mensagem desafiadora e desaforada. Não era aliado a nenhum sistema religioso ou político, seu único compromisso era o de oráculo. Não tinha o rabo preso; não andava em jatos pagos com o dinheiro do povo; nem escondia dinheiro na cueca, era subversivo: ia na contramão do sistema vigente.
d)    d) Lembrado em calamidades. O profeta está presente onde há pecado, injustiça, necessidade de arrependimento. Não me lembro de ter visto profetas transitando pelas ruas das cidades quando tudo vai bem.
e)    e) É coroado com sofrimento pelo exercício de seu ofício. O salário do profeta é tão insalubre quanto seu ministério. Trata-se de fugas de morte, dieta servida por aves de rapina, solidão, descrédito, desterro, a morte ao fio da navalha etc.
f)     f) enunciador. Toda essa isenção fazia de si o único capaz, de fato e direito, de denunciar os pecados do templo, do palácio e do mercado. Veja João, o batista, a voz que clama no deserto. É tudo que já falamos.

Perdeu-se a capacidade profética na igreja. Por tanto tempo os pentecostais evocavam essa prerrogativa para si, mas percebe-se, pelas características oferecidas pelas escrituras que o profetismo exercido hoje, em sua maioria, não passa de um farisaísmo disfarçado com uma capa de santidade.
Nossos profetas não ouvem mais a voz do Senhor; não denunciam pecado de ninguém. Há se ao menos confessassem os seus! Quantas injustiças acontecem dentro do mundo evangélico e fora dele, que atingem frontalmente toda a sociedade e a igreja passa de largo como fizeram os clérigos da parábola do bom samaritano? As minorias desassistidas de poder econômico, político e religioso. Mas nós, os profetas do Senhor, sequer temos a percepção de ver. Que nos faz diferentes de Balaão? Aquele profeta que perdeu a capacidade de ouvir Deus para vender os produtos religiosos da benção e da maldição?

2)    2) MESTRES
A docência é a arma mais poderosa da igreja de todos os tempos. Jesus nos enviou para “ensinar a guardar todas as coisas” referentes ao reino de Deus. Ele era conhecido como mestre, e não como operador de milagres, administrador, líder de uma visão. Mestre, esta era sua maior arma para conscientização, evangelização e instrumento de emancipação da pessoa humana.
Veja alguns apontamentos sobre o professor:
a)    a) Ajuda os alunos a crescerem. A maturidade só é possível pelo conhecimento, acumulo de experiências adquiridas;
b)    b) Livra a igreja dos devoradores. Vejas as epístolas de Paulo, com exceção da dos filipenses, todas foram motivadas pela inserção de alguma mazela trazida por um falso mestre que se instalava nas comunidades;
c)    c) Aprenderam de Cristo. “aprendi do Senhor o também vos ensinei”.
d)    d) Tinham um compromisso com a chamada do Espírito Santo.
e)    e) Ensinavam um evangelho centrado na cruz de Cristo, que o triunfo do filho de Deus foi à cruz e não na ressurreição; uma mensagem de renuncia;
f)     f) Nenhum dos mestres mencionados no novo testamento se auto-intitulavam coisa alguma, e qualquer relação promiscua com o poder era minado. Paulo diz aos irmãos da Galácia “longe de mim esteja gloriar-me, a não ser na cruz”.

Pela ausência de mestres há muitos crentes que não amadurecem. Estão sempre em busca dos milagres, das aventuras espirituais. Buscam os dons como fim em si mesmo, como se eles já fossem a maturidade cristã, o supra-sumo da espiritualidade evangélica e esquecem-se que a vara de medir o crente são os frutos.
A igreja de Cristo, a congregação dos salvos, precisa de crescer para ser a imagem de Jesus.

CONCLUSÃO
Em Efésios 4.11, o apostolo Paulo diz que “Ele mesmo deu… uns para profetas e mestres… para aperfeiçoamento dos santos”. Tanto um como outro são instrumentos de Deus para a edificação do corpo e glorificação da cabeça, Cristo.
O sucesso da igreja de Antioquia, paradigma para as igrejas gentílicas, era ela vivia num tempo que ouvir a voz do Espírito Santo não era brega, cafona; Profeta não era vendedor de mercadorias do céu e mestre não era um mercenário vendedor de receitas de sucesso (sermão: 3 segredos para ter um lar feliz; Livros: Determine sua bênção; Como ser uma pessoa de sucesso…).
Entretanto, nesta noite vejo o agir da mão do DONO DA IGREJA intervindo na nossa história através da chegada do STP enquanto ESCOLA DE TRAJANO E ESCOLA DE PROFETAS, cujo desafio é treinar e enviar para suas igrejas homens e mulheres que sonham numa igreja em que Deus tenha a primazia.


Portanto, usufruam do presente de Deus para o Caicó, para sua igreja aqui na região. Não veja esta instituição como possibilidade de intensificação da luta pelo poder; não transformem a benção em maldição. Maldição do denominacionalismo, do partidarismo, mas, unam-se em torno deste bem maior pela causa do Rei e seu reino de paz, de boas novas. Se alegrem por este filho que Deus vos Deus. Se congracem, festejem e vejam este seminário como ambiente de reflexão para um novo tempo, espaço epistemológico para os espíritos livres das cadeias do pragmatismo, do utilitarismo, secularismo e até mesmo do senso comum.

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